quinta-feira, 18 de junho de 2009

20º SEGUNDO

Amanhã publico a memória descritiva, ok?



quarta-feira, 17 de junho de 2009

20º PRIMEIRO




Finalmente os primeiros trabalhos dedicados à tipografia. Como anteriormente já tinha esclarecido, tentei ao máximo utilizar elementos desenhados à mão também neste projecto. O tema era interessante - poesia de Fernando Pessoa, ou mais concretamente, dos seus heterónimos, é sempre matéria riquíssima, nomeadamente do ponto de vista do grafismo - mas muito honestamente não me tinha sentido minimamente inspirado ou influenciado pelos exemplos apresentados nas aulas teóricas. Ao mesmo tempo, não queria cair na tentação de seguir o caminho do facilitismo e limitar-me a fazer desenhos com as palavras. Já havia visto demasiadas rodas dentadas, engrenagens e maquinismos, ou florestas, rios e flores compostas com as palavras dos poemas propostos.

Assim sendo, tentei encontrar outras imagens que se adaptassem à escrita, mas de uma forma menos óbvia. As hipóteses só começaram a ser realmente uma certeza quando me decidi por desenhar um Fernando Pessoa. Assim que o desenhei «vi» imediatamente o que queria fazer. Vectorizei o desenho - algo que não me satisfez por completo, já que gostava do aspecto «tinta da china» do original (e que pode ser visto mais abaixo, igualmente - e apliquei o texto. Nada mais. O aspecto minimalista dos dois trabalhos, aliás, é propositado. Na minha opinião, demasiados elementos gráficos não serviam o que tinha em mente, embora tenha visto alguns resultados de colegas da turma, manifestamente mais complexos e magníficos, não só conceptualmente como visualmente também.

O segundo exercício pairava na minha mente há já umas semanas, mas ainda não tinha a certeza como o executar ou, como o complementar. Já tinha a imagem do poeta, retirada da capa de um livro intitulado Poesia Dos Outros "Eus", e tinha pensado em compô-la a partir de palavras, mas isso só não me agradava. Algum elemento exterior à imagem tinha de contribuir com o devido enquadramento, não podia simplesmente construir um Pessoa com palavras e esperar que isso servisse somente como decoração. Claramente já tinha desistido de seguir a sugestão/indicação expressa no projecto e que nos «obrigava» a utilizar um outro texto, complementar ao excerto de um poema. Optei antes por procurar citações de Fernando Pessoa na esperança de que alguma pudesse dar lógica ao que tinha planeado. E não precisei de procurar muito; a frase escolhida, na minha opinião, representa bastante bem o conceito a que a imagem dá corpo. Não fiquei totalmente satisfeito com o resultado final, no entanto, e sinto que com mais tempo e sem a pressão dos exames e dos restantes trabalhos conseguia melhorar o trabalho.

Resta o terceiro exercício, totalmente diferente destes dois, e que planeio publicar amanhã ou sexta. E depois, o trabalho final.

O original


sábado, 13 de junho de 2009

VIGÉSIMO




Agora com um bocadinho de tempo livre entre dois exames, posso em poucas linhas escrever a real memória descritiva dos dois trabalhos publicados recentemente.
Quanto ao projecto elaborado a partir de "Take a Walk On The Wild Side":
Como já havia explicado o difícil foi mesmo escolher o tema musical. Assim que me decidi comecei à procura de imagens que correspondessem ao que tinha em mente. Escolhida a imagem o resto foi mesmo muito simples. Ampliação de fotografia, papel vegetal de engenharia, caneta branca (fantástica, diga-se), quatro clips para a coisa não se desconjuntar e muita paciência depois o trabalho estava feito. Limitei-me a preencher as luzes das janelas dos edifícios na imagem na expectativa de que só com esses brancos conseguisse transmitir a idéia de uma cidade. Os testes seguiram-se desde logo com a colaboração da minha mãe e irmãos. A resposta era sempre a mesma, a minha mãe, eterna viajante espiritual, respondeu com toda a certeza do mundo "é Manhattan". Estava satisfeito.
A fase seguinte passou pelo Photoshop unicamente para poder digitalizar a imagem e construir o quadrado e círculo propostos no projecto. Estava feito. Resta-me referir dois pormenores importantes. Primeiro, que a música que me influenciou esteve bem presente durante a execução do trabalho e durante a escrita do respectivo post; o Lou Reed em loop ajudou e de que maneira. Segundo, que a colaboração do professor Giesteira foi vital. Perguntei-lhe um dia se podia desenvolver os projectos à mão e não totalmente com a ajuda de um qualquer programa informático. Disse-me que sim e que isso também era tecnologia. Foi o empurrão de que eu precisava para soltar a imaginação ao meu gosto e começar a trabalhar.
Ah, já agora, tenho de fazer justiça à imagem sobre a qual trabalhei. Se não fosse ela...



Quanto ao Empire State Building:
Não foi nada complicado compôr a infografia. A dificuldade residiu simplesmente no facto de não dominar totalmente o Freehand, o que me fez perder algum tempinho...
Fora isso o que tive de fazer foi realmente simples. Digitalizar todas as imagens, vectorizá-las, dar-lhes uma cor catita, acrescentar toda a informação útil, escrever um textinho bonitinho e algumas curiosidades interessantes acerca do Empire State e arranjar o quadro de forma lógica e atraente.
Gostei do resultado final, embora tenha noção de que podia ficar mais elaborado. Ainda assim...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

10º NONO



A infografia, e que também me deu alguns problemas na hora de escolher o que ia fazer. Não foi fácil, e confesso que optei pelo Empire State Building mesmo à última.

E não foi complicado. Bastou recolher informação sobre o edifício, o que se consegue com facilidade, e trabalhar as imagens no Freehand. Demorou mais do que estava à espera, mas foi também um trabalho de que gostei mais do que podia imaginar.



10º OITAVO



Finalmente o primeiro projecto lançado nas aulas. Aparentemente simples, foi aquele que me deu mais dores de cabeça. Não por ser demasiado complexo, ou, por outro lado, pouco interessante. Nada disso. O problema é que havia que escolher uma música a partir da qual o projecto seria desenvolvido. E para mim isso é um problema: escolher uma música.

Passaram tantas pela mesa de trabalho, ou pela minha cabeça, que já nem me lembro de metade. Radiohead, Fleet Foxes, Devendra Banhart; músicas famosas de filmes mais ou menos conhecidos, Mozart e Óperas várias. Todas me agradavam demasiado para conseguir em tempo útil escolher qual a mais indicada. Porque desde sempre as músicas rapidamente me sugeriam imagens. E porque sempre me tentei escapar àquelas explicações muito rebuscadas para coisas como filmes, músicas, pinturas ou, neste caso específico, as imagens que a nossa mente projecta, influenciada por aquilo que percepciona.

Foi somente na semana passada que consegui escolher a música a trabalhar. E de forma inequívoca. A música que deveria ter estado lá desde o início e que, por alguma razão que me ultrapassa, nunca foi sequer uma hipótese. A minha música favorita de sempre. "Take a Walk On The Wild Side", de Lou Reed. A música que sempre me imprimiu na imaginação a mesma imagem. Desde sempre, desde que a conheço, já lá vão uns bons vinte anos. Nova Iorque. Ouvir a obra-prima de Lou Reed faz-me sempre e de forma instantânea pensar na cidade que nunca dorme, na Big Apple, em NY e etc, etc. E sempre foi assim. Claro, a música fala realmente de Nova Iorque e de várias personagens que só poderiam existir lá. Mas mais do que me fazer pensar, ou lembrar de Nova Iorque, "Take a Walk On The Wild Side" É Nova Iorque. Do início ao fim.

O ritmo é Nova Iorque. O contrabaixo repetitivo, a guitarra tão tímida (ou relaxada, se preferirem), as escovas na tarola, tão jazzy, a voz de Reed e as histórias que nos conta, todas tão TriBeCa. Os violinos que entram lá mais para o meio, tão Upper West Side, as colour girls, do Harlem, sem dúvida, o saxofone, bem por cima de todos os outros instrumentos, directamente do Soho.

"Take a Walk On The Wild Side" é Nova Iorque como Nova Iorque será sempre. É o destino daquela metrópole ser assim, tão rápida, tão intensa e ao mesmo tempo tão intensamente lay low. Lou Reed soube, como bom novaiorquino, construir uma peça de música que condensa tudo o que Nova Iorque é. "Take a Walk On The Wild Side" é o perfume de Nova Iorque. Melhor, muito melhor que qualquer guia turístico, enciclopédia ou documentário.

Apaixonei-me por Nova Iorque há uns anos e sem me dar conta, ou perceber porquê. Apaixonei-me simplesmente, como nos apaixonamos tantas vezes na vida por tantas outras pessoas. Esta é a minha homenagem à cidade, mais do que um projecto da faculdade.

(A imagem no círculo está de pernas para o ar por uma razão muito simples: um dos meus irmãos, ao ver a imagem completa, pegou na folha ao contrário e disse-me "isto é uma cidade vista da rua". E tinha razão. Embora o original seja uma vista dos prédios de Manhattan, mas do céu, a verdade é que basta inverter o ângulo de visão para mudar a perspectiva das coisas e o meu irmão, sem querer, lembrou-me disso. Ainda bem.)


Imagem original








Holly came from miami f.l.a.
Hitch-hiked her way across the u.s.a.
Plucked her eyebrows on the way
Shaved her leg and then he was a she
She says, hey babe, take a walk on the wild side
Said, hey honey, take a walk on the wild side

Candy came from out on the island
In the backroom she was everybodys darling
But she never lost her head
Even when she was given head
She says, hey babe, take a walk on the wild side
Said, hey babe, take a walk on the wild side
And the coloured girls go

Doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo
Doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo
Doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo
Doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo
(doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo)
(doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo)
(doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo)
(doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo, doo)
(doo)

Little joe never once gave it away
Everybody had to pay and pay
A hustle here and a hustle there
New york city is the place where they said
Hey babe, take a walk on the wild side
I said hey joe, take a walk on the wild side

Sugar plum fairy came and hit the streets
Lookin for soul food and a place to eat
Went to the apollo
You should have seen him go go go
They said, hey sugar, take a walk on the wild side
I said, hey babe, take a walk on the wild side
All right, huh

Jackie is just speeding away
Thought she was james dean for a day
Then I guess she had to crash
Valium would have helped that dash
She said, hey babe, take a walk on the wild side
I said, hey honey, take a walk on the wild side
And the coloured girls say





sábado, 23 de maio de 2009

10º SÉTIMO

Mais uma vez fora de ordem - e porque ainda estou a trabalhar nos projectos de tipografia - publico alguns exemplos da utilização de caractéres que valem por si só. Uns serão mais conhecidos do que outros, mas no fundo todos servem o propósito de destacar um objecto; nestes casos, livros, filmes ou concertos.











sexta-feira, 22 de maio de 2009

10º SEXTO

São argentinos. Basta. O resto tem mesmo de ser visto...

























segunda-feira, 18 de maio de 2009

10º QUINTO



Por motivos de rapidez, decidi abordar o terceiro projecto proposto nas aulas, e atirei-me à alteração das cores de ícones mais ou menos conhecidos. Confesso que de todas as propostas de trabalho, esta era de longe a menos motivante. Seja como for, estes são os primeiros resultados. Serviram essencialmente para perceber que alguns não representam diferenças significativas, seja qual for a alteração.
Não fiquei terrivelmente satisfeito com o resultado da imagem do Mickey, e provavelmente, caso tenha tempo para isso, ainda lhe vou dar uma reviravolta...



quarta-feira, 22 de abril de 2009

10º QUARTO

A última aula com o professor Giesteira foi, no mínimo, inspiradora. O tema discutido, a Côr, e a forma como foi abordado, apontou uma série de caminhos apetecíveis e um sem número de pontos de vista que remetem para uma série de referências que me são bastante familiares.

A arte de Dave Mckean, por exemplo, e do qual pudemos ver bons exemplos nos livros disponíveis na aula. Porque de alguma forma sempre me pareceu ser doentia, cerebral, assustadora, às vezes. Porque a côr é usada (nem sempre) de forma a induzir um certo mau estar, um desconforto qualquer que não sabemos bem explicar.

As questões relacionadas com casos de doentes do foro neurológico, e da forma como estes são influenciados pela sua condição; como isso lhes altera a percepção das coisas, das imagens, dos sons, da estética. Lembrei-me de um livro que mudou a minha vida, de uma certa forma, e de como me fez perceber o mundo das pessoas que sofrem com estes problemas; percebê-las e entender (de uma forma assustadora, diga-se) como pode alguém ficar preso dentro do seu próprio cérebro. Foi a primeira vez que me dei conta de que estes «defeitos» na nossa mente, estas falhas técnicas, são bem físicas e muito pouco metafísicas. Aprendi a rir-me daqueles que a pessoas assim conseguem rapidamente disparar um "isso é psicológico". Pois claro que é. O livro, "O Homem Que Confundiu a Mulher Com Um Chapéu", foi escrito por um famoso psiquiatra inglês, Oliver Sacks, e é um conjunto de relatos que ultrapassam a linguagem meramente clínica. São histórias contadas com um incomum carinho e, por vezes, sentido de humor optimista. Sacks dedicou-se a escrever sobre as experiências que teve com diversos dos seus pacientes nos anos em que trabalhou em instituições de doentes mentais. Este livro não explora essas mesmas pessoas. Pelo contrário, eleva a sua condição humana e trata cada caso como se admirasse cada um dos indivíduos. E admira.

A própria pintura e tantos artistas que sofriam de variadíssimas doenças mentais. Como isso lhes condicionava a vida social e como influenciava o seu trabalho. Van Gogh e a sua mais do que certa esquizofrenia e a forma como o seu estado mental, permanentemente em desalinho, lhe deu uma facilidade ímpar em percepcionar uma quantidade absurda de possibilidades de utilização da côr. Dalí, que com a sua insanidade - ou apenas excentricidade? - foi capaz de criar as imagens mais estravagantes, mas também de desenvolver uma técnica minuciosa e invulgarmente perfeita.

Podia até falar de Clive Wearing, um brilhante pianista e maestro inglês que tem uma memória de apenas 30 segundos. Afectado pelo comum vírus da herpes, o cérebro de Wearing perdeu todas as capacidades de reter memórias, especialmente memórias das coisas que aprendemos todos os dias. As unicas coisas que consegue processar, única e simplesmente porque dependem de uma zona do seu cerebelo que não foi afectada, são o seu trabalho e a sua mulher. Ou seja, continua a tocar piano e a dirigir uma orquestra e lembra-se sempre da sua mulher como se fosse a primeira vez que a estivesse a ver em anos. Mesmo que a última vez que a tenha realmente visto tenha sido há uns meros 31 segundos.


Mas este trabalho tem de se relacionar com a côr de alguma forma, e por muito que a música induza esse tipo de imagens - espero eu que induza nos outros também... - o assunto não é unânime o suficiente para não provocar a discussão.

Posto isto, a minha escolha para este trabalho só podia ser a vida e trabalho de Isaiah Zagar, um inacreditável artista plástico de Filadélfia, nos EUA, e que é um exemplo perfeito da utilização da côr e de como um distúrbio neurológico pode afectar, ou se preferirem, influenciar a arte de um criador.
Zagar tinha 28 anos quando um esgotamento nervoso resultou na incapacidade do artista conseguir decidir um fim para os seus trabalhos. Zagar sempre afirmou ter perdido a habilidade de entender o que esteticamente seria certo ou errado. Assumindo esta sua nova forma de olhar o seu trabalho, Isaiah Zagar dedicou-se a criar murais compostos por vidro, tijolo, porcelana, plástico, metal, mas também por objectos que resgata do lixo, como rodas de bicicleta, pequenos electrodomésticos, peças de automóveis, etc. Nunca saíu da sua cidade-natal, Filadélfia, para trabalhar. Tudo o que construíu foi nas ruas dessa cidade; nos prédios, nos muros, igrejas e parques. Criou uma obra incontornável e impressionante a que deu o nome de Secret Garden, um labirinto gigantesco forrado a mosaico e onde o artista expôs igualmente alguma da sua poesia.
Olhar os trabalhos de Isaiah Zagar é imediatamente perceber o que consegue fazer com milhões de côres diferentes. Observar um dos seus murais é um verdadeiro desafio; tentar identificar a quantidade de tonalidades diferentes presente num só metro quadrado é coisa para nos levar umas horas. Nunca saberemos verdadeiramente se foi a sua condição neurológica o rastilho desta constante explosão criativa de Zagar. É fácil justificarmos a necessidade do artista em compôr as imagens a partir de milhões de pequena peças de puzzle com a «extrema complexidade do seu cérebro». Mas isso nós não sabemos de facto. O que sabemos é que o próprio Isaiah Zagar admite que o seu incidente lhe deu um novo eyesight, isto é, uma forma nova de olhar e percepcionar o mundo. Ele, que sempre demonstrara uma frágil saúde mental - antes do esgotamento nervoso já havia tentado o suicídio - encontrou na sua nova condição um equilibrio que para nós não é outra coisa que não estranho, desconfortável. Ao fazê-lo, atingiu o brilhantismo, mesmo que, sabemos hoje, a sua vida pessoal e social tenha sido sempre uma constante luta. Está para estrear nos EUA - infelizmente o nosso mercado continua a não dar espaço a 99% dos documentários que se fazem por aí - um filme sobre a vida de Isaiah Zagar, realizado e filmado pelo seu filho mais novo, e que acompanha o artista no seu dia-a-dia. A câmara passa a fazer parte da família, e o que vemos nem sempre é agradável. Mas é um retrato essencial para todos os que quiserem saber mais sobre um homem absolutamente genial; sobre o seu trabalho e as suas influências - aquilo a que os americanos tão bem chamam de what makes you tick - mas acima de tudo acerca da sua doença mental. É tocante perceber como consegue um homem suplantar as dificuldades provocadas, ultrapassar as dores que essas dificuldades lhe provocam - metafísicas, não físicas - e ainda assim ser uma figura incontornável, inultrapassável na arte e cultura de dois séculos.

Na doença - será mesmo doença? - há quem consiga encontrar coisas novas, caminhos novos para o seu trabalho. O professor de música, de que fala o doutor Sacks, que perdeu a capacidade de reconhecer rostos mas que imediatamente percebeu que recuperava essa capacidade sempre que ouvia ou tocava um peça de música clássica. Ou Jackson Pollock, que de alguma forma aprendeu a canalizar uma raiva e ódio desmedidos para as gigantescas telas que pintava. Ou Wagner, Nietzche, Cobain, Buckley, Mário de Sá Carneiro, Sarah Kane, e tantos outros, que consciente ou inconscientemente foram alimentados pela sua mente e incentivados a criar mais e mais.

Há muita coisa que me fascina em Isaiah Zagar e no seu trabalho. Tudo o que já referi - o uso das côres, a forma como transforma tanta matéria prima diferente num objecto único e totalmente claro e perceptível e que imediatamente se traduz numa imagem forte e facilmente reconhecível - mas também algo que provém de um pequeno detalhe e que me suscita um sem número de interpretações: no meio do caos organizado composto pelos pequenos pedaços de vidro, azulejo e tijolo, Zagar desenha linhas flúidas, harmoniosas, leves. O contraste entre estes traços e as arestas afiadas das pequenas peças de puzzle transmite-me a sensação de que existe algo no seu cérebro que insiste em estar ligado ao homem que era antes. Antes do incidente, antes da transformação. Na minha ideia, Zagar vive num mundo alterado pelo seu olhar, uma realidade a que não pode fugir. No entanto, existe um espaço na sua mente que se lembra de como as coisas eram antes de serem distorcidas pela morte de algumas células; lembra-se e tenta a todo o custo sobreviver na arte de um homem que decididamente não é um homem qualquer. É especial mesmo que (especialmente) por causa de um esgotamento nervoso.

Em 1972, a agência publicitária Young & Rubicam elaborou uma campanha de sensibilização para os objectivos da United Negro College Fund, uma organização apostada em lutar pelos direitos dos alunos negros nos Estados Unidos. O slogan "A Mind Is a Terrible Thing To Waste" é ainda hoje algo de extremamente familiar aos nossos ouvidos, mesmo sem sabermos o que representa ou sequer se foi inventado por alguém. É uma frase que não podia estar mais certa. Uma mente, qualquer mente, é algo terrível de desaproveitar. Isaiah Zagar lutou contra a sua dificuldade e deu-lhe a volta. Completamente. Por outro lado, a frase "The Mind Is a Terrible Thing To Taste", aproveitada pelo grupo americano Ministry para título de um dos seus álbuns, nãó é menos acertiva. A mente pode de facto ser algo de terrívelmente assustador. Os casos de que fala Oliver Sacks, ou referidos por António Damásio no seu livro "O Erro de Descartes", mostram-nos realidades que só conseguimos imaginar no cinema. Isaiah Zagar vive numa dessas (Ir)realidades. Todos os dias tem de se confrontar com a sua nova forma de olhar o mundo, de o percepcionar como mais ninguém o faz. Como ninguém o faz, realmente. O meu olhar é diferente do teu, ponto.





Referências / Sugestões:
Breve biografia de Isaiah Zagar
Isaiah Zagar na Wikipedia
Oliver Sacks na Wikipedia
Página oficial de Dave Mckean
Man without a memory - Clive Wearing

sexta-feira, 17 de abril de 2009

10º TERCEIRO

Julgo que os próximos vídeos não necessitam de grandes explicações. Parece-me serem exemplos perfeitos de tudo o que já se falou nas aulas, e abordam, na perfeição, a matéria da cor e os seus significados, sentimentos e emoções.

Quanto a Ken Nordine, convém introduzi-lo à comunidade. Há muitos anos tinha a mania de comprar discos apenas pelo aspecto da capa. Foi assim que o Ken Nordine entrou na minha vida, porque gostei da capa de um dos seus discos, no caso, "Son Of Word Jazz". Nordine é um famoso voiceover, ou seja, um senhor que usa a voz para, entre outras coisas, fazer rádio, anúncios televisivos e radiofónicos e relatar os famosos trailers para cinema. Ken Nordine gostava de falar dos mais variadíssimos assuntos, alguns bastante sérios, outros surreais e aparentemente sem sentido. Uma das suas poesias - se lhe quisermos chamar assim - fala precisamente das cores e das suas características (quase) humana. Como em muitas outras áreas, as suas palavras inspiraram artistas a realizar trabalhos para lhes dar corpo. Os vídeos que se seguem são alguns (poucos) desses trabalhos. E até parece que foram feitos de propósito para nós...








sexta-feira, 27 de março de 2009

10º SEGUNDO


Marian Bantjes é uma designer, ilustradora, tipógrafa e escritora canadiana, e pelo que se pode perceber pelo seu currículo, uma mulher tremendamente ocupada. Os seus trabalhos, nas diversas áreas gráficas que domina, são de um detalhe impressionante, embora construídos a partir de elementos simples, como linhas, sombras e letras.

O seu
site é uma espécie de diário do que vai fazendo, e mostra-nos que a senhora já atingiu um patamar de reconhecimento assinalável. Basta ver quem são os seus clientes habituais...







quarta-feira, 25 de março de 2009

10º PRIMEIRO

Para não perder o andamento, cá vai mais um óptimo exemplo do que se consegue com a devida dose de harmonia entre música, animação e, lá está, os tais elementos da comunicação visual (acho que me ando a repetir...).

O genérico inicial de "Kiss Kiss Bang Bang", quase tão brilhante quanto o anterior aqui publicado.

DÉCIMO



Quantas são ainda as pessoas para quem um filme só começa realmente após o genérico inicial ter terminado? Quantas vezes só temos silêncio absoluto na sala de projecção após estes pouco mais de dois minutos? Dois minutos que são na verdade o início do filme e que muitas vezes nos lançam pistas sobre o que vamos ver, que nos contam a história antes ainda de algum actor aparecer no grande ecrã e que, na maior parte das vezes e se estivermos atentos, podem até revelar que afinal o assassino não é - perdoe-me a Agatha Christie - o mordomo.

O genérico inicial é a primeira aproximação ao filme que estamos a ver. São as suas primeiras imagens, os seus primeiros sons. Pode muito bem ser um objecto plasticamente diferente do que se lhe segue, mas nunca lhe é totalmente indissociável. Pode mesmo ser considerado já como um género em si - há inclusive galardões que premeiam os realizadores destes pequenos filmes-dentro-de-filmes - mas obedece sempre a uma lógica narrativa, mais do que a uma vontade ou liberdade estética.

Quem realiza um genérico inicial é por definição merecida um artista plástico. Um artista que tem de perceber a história que se quer contar e saber como abordá-la ligeiramente, sim, mas também de forma a cativar os mais empedernidos e aumentar as expectativas do público. Um bom genérico prende o público desde os seus primeiros segundos. Um genérico realmente efectivo faz o público salivar pelo que está para vir, e quantas vezes é esse mesmo genérico o responsável pela mudança de atitude de alguém que foi ao cinema contrariado? Alguém que subitamente se vê apanhado pelo isco lançado por aqueles dois minutinhos e que já não consege olhar para o lado, segredar alguma coisa ao ouvido da namorada, ou fazer barulho com as pipocas.

É claro, há filmes e realizadores que parecem não apostar nesta primeira sequência de imagens e sons. Alguns filmes não têm sequer genérico - alguns nem sequer necessitam, para dizer a verdade - outros têm-no mas meramente como decoração; uma bonita moldura com que enquadrar os nomes dos intervenientes naquela obra.

Tudo tem o seu espaço e tudo é, obviamente permitido. No entanto, prefiro mil vezes um genérico que tenha vida própria e que sirva até como curta-metragem da longa que se lhe segue, do que um objecto mortiço, cinzento e tremendamente aborrecido.

Assim é o maravilhoso genérico de "Catch Me If You Can", o filme de Steven Spielberg que em 2002 juntou Tom Hanks e Leonardo DiCaprio para nos contar a história verídica do maior burlão da história dos EUA, Frank Abagnale Jr. A pequena curta-metragem de animação realizada pela empresa Kuntzel and Deygas que dá início à história É a história. Em pouco mais de dois minutos - os tais dois minutinhos - ficamos a saber o que se passa, o que acontece, como acontece, quem é quem e faz o quê. Tudo a um ritmo endiabrado, divertido, quase infantil e que, lá está, prende imediatamente a atenção do espectador.

O trabalho é um exemplo magnífico - um dos melhores na área - de todos os elementos da comunicação visual que têm sido discutidos e tantas vezes exemplificados nas aulas. Linhas em movimento, muito rectas mas que terminam muitas vezes em palavras arredondadas e suaves, e que vão compondo estruturas, barreiras, muros, estradas e um sem número de outros objectos; manchas enormes de cores fortes mas pouco elaboradas e que servem quase como papel de parede para as movimentações dos «bonecos», toscos, simples e, como as linhas, também eles muito rectos. A juntar a isto tudo dois pormenores deliciosos, pequeninos mas significativos. Um, e tão a propósito do que se falou e viu na última aula, na passada sexta-feira, e que pode ser visto assim que surge o título do filme. Reparem no simples e tão eficaz efeito que uma das palavras sofre à passagem de um certo avião. O segundo, o nome dos realizadores do genérico, escondidos algures numa capa de arquivo...

Tudo isto acompanhado por (mais) uma composição brlhante de John Williams, um dos mais fieis parceiros de Spielberg e um dos maiores compositores de música ao serviço do cinema de sempre. Ao contrário daquilo a que já nos acostumou, Williams optou não por uma partitura sinfónica mas sim por pequenas peças facilmente associadas a um certo tipo de Jazz da década de 60. A banda sonora espelha bem o conteúdo do filme e, acima de tudo, a forma escolhida pelo realizador para nos contar a história de Abagnale Jr. Assim, as músicas são divertidas mas inspiram também um certo mistério; ouvimo-las e rapidamente criamos no nosso imaginário a imagem de alguém inteligente, manhoso e muito, muito ardiloso. As bandas sonoras, como os genéricos iniciais, têm também esta particularidade: têm de ser indissociáveis do objecto imagem e com ele construir um todo, lógico e coerente. Mas este é um tema que por si só merecia um artigo inteirinho.

Esta música em particular é absolutamente irresistível. Possui um ritmo incrível, bem «dedilhado», quase mecanizado e que inclusive me está, precisamente neste momento, a fazer escrever mais rápido este artigo. Como todas as trilhas sonoras de John Williams, é o acompanhamento perfeito para as imagens de Spielberg; o "mais qualquer coisa" que as transforma em algo harmonioso e que nos permite, como referi no início deste artigo, ficar agarrado ao ecrã sem conseguir desviar os olhos, segredar algo ao ouvido da namorada ou fazer barulho com as pipocas - embora eu aprecie mais uma boa dose de nachos.


terça-feira, 24 de março de 2009

NONO


Mais uma vez o uso de um elemento da comunicação visual ao serviço da música...


segunda-feira, 23 de março de 2009

OITAVO



Mais uma referência de alguém que por cá é conhecido apenas por algumas pessoas, nomeadamente pelos fãs de música da pesada. Porquê? Porque Derek Hess fez-se famoso com as ilustrações que compôs para inúmeros concertos e discos de bandas Indie, Hardcore e Heavy Metal. É muitas vezes associado a um movimento artístico conhecido por Lowbrow, que teve origem em Los Angeles na década de 70 e de que falarei aqui mais lá para a frente.
As ilustrações de Hess não são sempre fáceis ou agradáveis. No entanto é impossível ficar-lhes indiferente. O traço forte, carregado como se fosse feito com vontade de rasgar a folha, as personagens e especialmente as suas emoções, sempre pesadas, brutais, não permitem qualquer tipo de desprezo. Têm de ser vistas.